Casa Branca rebateu declarações, e disse que 'presidente não é um mentiroso'. Em depoimento no Senado, ex-diretor do FBI afirmou não ter dúvidas de que Moscou tentou interferir na eleição americana, e que interpretou como 'instrução' conversa com Trump sobre assessor Flynn.
POR G1
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Ex-diretor do FBI, James Comey, durante depoimento no Senado (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst) |
James Comey,
ex-diretor da polícia federal dos Estados Unidos (FBI), afirmou nesta
quinta-feira (8), na audiência do Congresso mais aguardada em anos, que foi
demitido por causa da investigação da suposta interferência russa na eleição
americana, que não tem dúvidas de que essa interferência existiu, e que a
administração Trump mentiu sobre sua pessoa e sobre o FBI, difamando-os. Não
opinou, no entanto, sobre se o presidente obstruiu a Justiça ao falar com ele
sobre a investigação.
Comey foi
demitido repentinamente em 9 de maio, e as circunstâncias da sua saída não
ficaram claras. Na época, o presidente alegou que o FBI estava em uma situação
caótica. O governo deu motivos diferentes para a demissão, e mais tarde Trump
contradisse sua própria equipe reconhecendo no dia 11 de maio que despediu
Comey por causa do inquérito sobre a Rússia.
Dias após seu
afastamento, “The New York Times” divulgou um memorando em que Comey relatava
um pedido de Trump para que ele encerrasse a investigação sobre um conselheiro
de segurança nacional, Michael Flynn, que era suspeito de estar em contato com
a Rússia durante a campanha presidencial. Nesta quinta, Comey disse ter
interpretado a conversa com Trump sobre a investigação envolvendo Flynn como
uma "instrução".
Indagado na audiência
de mais de duas horas sobre o motivo de sua demissão, Comey respondeu que não
sabe ao certo, mas acrescentou: "Acho que o presidente, pelo que disse, me
demitiu por causa da investigação da Rússia. Algo na maneira como eu estava
conduzindo a investigação estava deixando nele a sensação de pressão, algo que
ele queria aliviar".
No início da
sessão desta quarta, o presidente da Comissão, o senador Richard Burr,
perguntou diretamente: "Em algum momento o presidente lhe pediu para
interromper a investigação sobre a ingerência russa nas eleições em
2016?". Comey disse apenas "não".
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James Comey, ex-diretor do FBI, durante depoimento em Washington (Foto: REUTERS/Jim Bourg) |
Segundo ele, a
preocupação no FBI era a de não contaminar a equipe de investigação. "Não
queríamos que os agentes soubessem o que o presidente havia pedido. Quando
parte do presidente, tomo isso como uma instrução", disse, de acordo com a
France Presse.
Porém, ele
ressaltou que não lhe cabe definir se este fato constituía uma tentativa de atrapalhar
o trabalho da Justiça. "Não acho que deva dizer se as conversas que tive
com o presidente foram obstrução à Justiça. Foi uma coisa muito perturbadora,
desconcertante", afirmou.
Comey disse não
ter dúvidas de que a Rússia tentou interferir na campanha eleitoral que levou
Donald Trump à presidência do país. Ele negou, porém, que o presidente tenha
tentado interromper a investigação. "Nenhuma [dúvida]", respondeu ao
Comitê de Inteligência ao ser questionado sobre a interferência russa na
disputa entre o republicano Trump e a democrata Hillary Clinton em 2016.
Interferência russa
Para Comey, a
Rússia exerceu ingerência nas eleições mediante a invasão dos sistemas de
computadores do comitê nacional do Partido Democrata. No entanto, as
informações que possuía não lhe permitem afirmar que o resultado da eleição foi
manipulado.
Difamação
Comey reiterou
que Trump tinha reconhecido seu bom desempenho à frente da corporação e tinha
feito elogios em várias ocasiões. “Entendi que estava fazendo um bom trabalho.
Fiquei confuso quando soube pela imprensa que tinha sido demitido por causa da
investigação sobre a Rússia. Isso não fazia nenhum sentido para mim”, declarou.
“Embora a lei
não exija nenhum motivo para demitir o diretor do FBI, a administração [Trump]
escolheu me difamar e, mais importante, difamar o FBI ao dizer que a
organização estava em desordem, e que a força de trabalho havia perdido
confiança em seu líder", afirmou. "Isso era mentira, clara e
simplesmente. E eu sinto muito que os funcionários do FBI tenham tido que ouvir
isso, e que o povo americano tenha ouvido isso", lamentou.
A Casa Branca
respondeu às acusações de Comey e chamou de "insultantes" as
perguntas que colocam em dúvida a honestidade de Trump. "O presidente não
é um mentiroso".
Em um discurso
em Washington, Trump disse a apoiadores que seu movimento está "sob
cerco" e prometeu continuar lutando. "Estamos sob cerco... mas vamos
sair maiores e melhores e mais fortes do que nunca", afirmou. "Não
iremos recuar de fazer o que é certo".
O advogado
pessoal de Trump, Marc Kasowitz, disse que o depoimento de Comey provou que o
presidente não estava sob nenhuma investigação e não há evidências de que um
único voto foi alterado como resultado da interferência russa na eleição do ano
passado.
Encontros documentados
Na audiência, o
ex-diretor afirmou que o FBI é honesto, forte e independente e que funcionará
com ou sem ele. Comey também garantiu que documentou seus encontros a sós com o
presidente Trump, porque temia que o republicano mentisse sobre o conteúdo das
conversas posteriormente. "Estava honestamente preocupado pelo fato de que
ele pudesse mentir sobre a natureza de nossos encontros".
"Sabia que
poderia chegar o dia no qual pudesse precisar de um registro do que ocorreu não
só para me defender, mas também para defender o FBI", completou o
ex-diretor, sob juramento.
Quando anunciou
a demissão de Comey, em maio, Trump tuitou uma ameaça velada para que se
mantivesse em silêncio, sugerindo que poderia ter gravações das conversas entre
eles.
Comey deixou
claro que não ficou intimidado: "vi a mensagem no Twitter sobre as
gravações. Eu espero que haja gravações", disse, segundo a France Presse.
Deste caso
dependerá o futuro da administração de Donald Trump, que tem tido dificuldades
para concretizar as reformas prometidas. A popularidade do 45º presidente dos
Estados Unidos estava nesta semana em um nível historicamente baixo, com apenas
38% de opiniões favoráveis, segundo o Gallup.
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